sexta-feira, 28 de maio de 2010

8 - Fontes de Pesquisa

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Os diferentes capítulos foram escritos com base em dados históricos, retirados de vários livros, com alguma ficção a permeio.


A Padeira de Aljubarrota
de Diogo da Costa, J.A. Oliveira Mascarenhas
Colecção Palavras com história

A Padeira de Aljubarrota
de Vanda Marques
Editora 7 dias 6 noites

Grande Enciclopédia Luso Brasileira
Editorial enciclopédia

Lusíadas
De Luís de Camões
Canto IV

Outros documentos

7 - A Batalha de Aljubarrota

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Depois da batalha de Atoleiros que o Condestável venceu mas a batalha decisiva aconteceria em 14 de Agosto de 1385 nos campos de Aljubarrota, 7.000 guerreiros portugueses contra 30.000 castelhanos.
Estes sorriem do reduzido número de adversários, arrogância. Comandam as nossas tropas o Condestável D. Nuno Álvares Pereira e o Mestre de Avis (D.João I).

Deu sinal a trombeta Castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso;
Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães, que o som terríbil escutaram,
Aos peitos os filhinhos apertaram.

“Começa-se a travar a incerta guerra;
De ambas partes se move a primeira ala;
Uns leva a defensão da própria terra,
Outros as esperanças de ganhá-la;
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.

Lusíadas canto IV

Mas a técnica do quadrado foi apurada e, apesar da desproporção numérica, os castelhanos são outra vez são derrotados, gritos, relinchos dos cavalos, desespero dos castelhanos que vão debandando o campo de batalha.

Brites de Almeida, ouve o fragor da batalha e não se aguenta, não conseguiu resistir ao apelo da sua natureza, o antigamente vem à tona.
À frente de um grupo de mulheres corre para o campo da peleja, recolhe a espada de um moribundo e trata de juntar-se à tropa portuguesa e à arraia-miúda que perseguem os fugitivos.

- Quem manda em Portugal são os portugueses, quero lá saber de Leonor Teles, essa cadela vadia, e de sua filha Beatriz parida dessa cadela vadia! – Disse Brites de Almeida.


Desgrenhada, esfarrapada, ensanguentada, chega ao anoitecer a casa. Estranha que a porta do forno da padaria esteja fechada quando tem a certeza que a deixara aberta.
Trata de reabri-la e dentro do forno vê sete soldados castelhanos que fingem dormir. Agarra na pá de ferro e começa a arrear porrada valente em todos eles.
Gritando de dor, vão todos saindo, um a um. É quanto basta para que, dando um golpe na nuca de cada qual, todos eles tombem mortos.
Ao fazer 40 anos, casou-se com um lavrador rico que muito a admirava, e nunca mais se ouviu falar de Brites de Almeida, desconhecendo-se a data da sua morte, mas a Padeira de Aljubarrota faz parte, sem dúvida, da História de Portugal.



1 - Brites de Almeida - Padeira de Aljubarrota


Brites de Almeida teria nascido em Faro em 1350, de pais pobres e de condição humilde, donos de uma pequena taberna. A lenda conta que desde pequena, Brites se revelou uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos, teria 6 dedos nas mãos, o que teria alegrado os pais, pois julgaram ter em casa uma futura mulher muito trabalhadora.

Contudo, estaria talhada para ser uma mulher destemida, valente e, de certo modo, desordeira. Não se enquadrava nos típicos padrões femininos e tinha um comportamento masculino, o que se reflectiu nas profissões que teve ao longo da vida.

Aos vinte anos ficou órfã, vendeu os poucos bens que herdou e meteu-se ao caminho, andando de lugar em lugar e convivendo com todo o tipo de gente. Aprendeu a manejar a espada e o pau com tal mestria que depressa alcançou fama de valente.

Teve que fugir de barco para Castela com medo da justiça. Mas o destino quis que o barco fosse capturado por piratas argelinos que a venderam como escrava a um senhor poderoso da Argélia.

Com a ajuda de dois outros escravos portugueses conseguiu fugir para Portugal numa embarcação que, apanhada por uma tempestade, veio dar à praia da Ericeira. Procurada ainda pela justiça, Brites cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve. Um dia, cansada daquela vida, aceitou o trabalho de padeira em Aljubarrota.

Encontrar-se-ia nesta vila quando se deu a batalha de Aljubarrota
. Derrotados os castelhanos, sete deles fugiram do campo da batalha e encontraram abrigo na casa de Brites, que estava vazia porque Brites teria saído para ajudar nas escaramuças que ocorriam.

Quando Brites voltou, tendo encontrado a porta fechada, logo desconfiou da presença de inimigos e entrou alvoroçada à procura de castelhanos. Teria encontrado os sete homens dentro do seu forno, escondidos. Intimando-os a sair e a renderem-se, e vendo que eles não respondiam pois fingiam dormir ou não entender, bateu-lhes com a sua pá, matando-os.

A pá foi religiosamente guardada como estandarte de Aljubarrota por muitos séculos, e uma sua réplica faz parte da procissão do 14 de Agosto.

Consta que se casou com um rico lavrador, tão forte quanto ela e das suas façanhas nunca mais se ouviu falar, desconhecendo-se a data da sua morte.

2 - Proposta de Casamento

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Brites de Almeida preferia mais vagabundear e andar à pancada que ajudar os pais na taberna que possuíam em Faro e de donde estes tiravam o sustento diário para a família.

Aos vinte anos ficou órfã, vendeu os poucos bens que herdou e meteu-se ao caminho, andando de lugar em lugar e convivendo com todo o tipo de gente: vagabundos, ladrões, assassinos, o pior que existia na sociedade do tempo.

Aprendeu a manejar a espada e a vapular o pau com tal mestria que depressa alcançou fama de valente. Raros eram os homens que se atreviam cruzar armas com Brites.

Apesar da sua temível reputação houve um soldado que, encantado com as suas proezas, a procurou e:
- Brites, tu és uma mulher que um soldado, valente como eu, deseja para sua companhia.
- Tu não vales um real furado. Eu casar contigo e perder a minha independência, nem penses!
- Mas Brites, os tempos estão difíceis, uma mulher precisa da protecção de um soldado do melhor que se pode encontrar entre as tropas do Mestre de Avis.
- E tu achas que eu preciso de protecção, ou será o contrário?
- Tu ofendes-me, Brites !
- Ai sim ! Proponho-te uma condição para eu casar contigo.
- Sou todo ouvidos!
- Vamos lutar. Vamos lutar um contra o outro. A arma é o pau. Se venceres caso-me contigo.
- Aceito.
No terreiro frente à casa de Brites, o soldado tirou o libré, arregaçou as mangas da camisa, agarrou o pau com as duas mãos numa demonstração de sabedor da matéria. Brites tirou o avental para o lado, pegou num pau, mostrando que também sabia da arte de vapular.
O soldado avançou com o pau aos ziguezague aproximando-se de Brites. Esta mostrava-se impassível, aguardando com o pau em riste, numa atitude de defesa. O soldado ataca e bate com força no pau de Brites. Esta resiste, volteia e bate com força no pau do soldado que todo ele estremeceu.

De novo o soldado ataca, aplicando um golpe aprendido noutras lutas, mas Brites experimentada nesta arte, apara o golpe e num contra-ataque rápido e que demonstrava forte conhecimento da arte, aplica uma forte pancada na cabeça do soldado, que cai desamparado a sangrar.



As gentes que entretanto ouviram o barulho da luta, aproximaram-se e presenciaram Brites debruçada sobre o soldado, abanando-o.
- Levanta-te infeliz que ainda não acabamos.
- Brites, o soldado está morto.
- Tu mataste um soldado do rei. Tens que fugir se não vais presa - disse uma sua vizinha.

Atarantada, Brites pegou nos seus parcos pertences e meteu-se a caminho até à beira-mar, à procura do Peixoto um marinheiro seu conhecido.

3 - Fuga para Castela

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Desatinada Brites com o seu ar desajeitado, com os haveres a fugir-lhe das mãos, tendo que parar para os apanhar, dirigia-se, sem olhar para trás, com receio que a sua fuga precipitada levantasse suspeitas nas pessoas que sentadas às portas das suas habitações conversavam, naquelas ruas estreitas da cidade de Faro, que desembocavam junto ao cais.
O batel do Peixoto um ladrão mais que marinheiro, seu conhecido, preparava-se para zarpar com destino ao reino de Castela, quando lhe apareceu pela frente a abantesma de Brites, que lhe disse:
- Ó compadre Peixoto só vossemecê é que me pode valer.
- E o que foi que fizeste desta vez, ó Brites – disse o marinheiro
- Matei um soldado do rei e se me apanham vou para o xelindró - respondeu
- Ó mulher, eu vou para Castela, com um carregamento especial e não regresso tão cedo – disse o marinheiro.
- Eu também quero ir para não mais voltar – respondeu a Brites
- Então sobe que eu vou aproveitar a maré e antes que venha alguém com quem eu não me quero encontrar. E o batel partiu, aproveitando a maré e o vento que soprava de feição.
Estava o sol quase no ocaso e o batel já navegava frente a Sanlucar de Barrameda, quando um navio pirata, vindo do norte de África, mais propriamente da Argélia, encostou ao batel do marinheiro, já conhecido por aquelas paragens. - Entonces amigo que carga tiendes com vosotros en tu batel
– disse o pirata que falava um castelhano meio arrevesado.
- Pescado, só pescado que vou levar a Cadiz, señor – disse o marinheiro num castelhano do mesmo calibre.
- Te conecemos de outras viajes. Y esta chica que se parece a um hombre? És tu mujer?
- No, Dios me dé outro destino!
- Tenemos um buen trabajo para ela. En el hárem de mi amigo Moulaye Abdel en mi terra, ou escravita. - disse o pirata.
E dito isto, dois piratas içaram Brites, prenderam-na a um poste do navio e ataram o batel do marinheiro à popa do navio.


O marinheiro-ladrão prevendo que o seu negócio ia parar às profundezas do oceano, tentou habilmente negociar com o pirata.
- Señor doy la mitad de mi mercancia y que me dejes ir, vale?
- Te vas, pero sin nada. E tu mercancia não é pescado, qui és?
- São …pescado
- Usted es um ladrón qui solo robas cosas buenas...unas pratitas de las iglesias...ou ourito de damas portuguesas, não és cierto?
- Poca cosa...uns regalos para unas mujeres de Cádiz.
- No importa. Temos tiempo de saber qui és la mercancia.
E ordenando a dois seus capangas, pegaram no marinheiro e içaram-no também para o
navio e ataram-no a um outro poste.
E o navio pirata tomou o rumo das costas de África.

4 - Brites de Almeida Escrava em África

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O barco do pirata argelino tomou rumo a oeste, atravessou o estreito de Gibraltar e depois de passadas duas luas, o barco pirata ancorou numa baía, muito resguardada, próximo da cidade de Bugia, que se transformara no centro de pirataria do Mediterrâneo. Aqui faziam-se grandes negócios de escravos e negociavam-se as mercadorias roubadas a galés que atravessavam o Mar Mediterrâneo.
Brites de Almeida e o marinheiro ladrão Peixoto foram transportados num pequeno barco a remos amarrados de pés e mãos, porque qualquer um deles era de confiança. O pirata levou-os para uma grande tenda do seu amigo árabe Moulaye Abdel.
Depois dos tradicionais beijos de saudação, o pirata disse a Moulaye Abdel que tinha mercadoria para negociar. Umas mulheres árabes apareceram com chá de menta e uns bolos de sementes de gergelim que colocaram numa pequena mesa junto dos homens.

Como os dois só falavam em árabe tanto Brites como o seu companheiro de infortúnio não sabiam do que estavam a falar. A conversa era pausada, entre goladas de chá e prolongadas negociações. O árabe olhava com curiosidade para Brites e para o marinheiro.

A certa altura o pirata chegou perto de Brites e sentou-se à sua beira e no seu castelhano disse-lhe:
-Mi amigo dice que tu não te ajustas a su hárem? Te ve como um hombre e el hárem ya tien eunucos. Moulaye Abdel dice como és furte como um hombre, vais tratar de sus camellos.
-
Y tu marinero-ladrón tienes una buena forma física vas al desierto para las caravanas de camellos.

Brites de Almeida foi enviada para uma tenda vigiada por dois homens, deram-lhe uma djellaba, mandaram-na vestir e depois foi enviada para junto da cáfila que pastavam no extremo do arraial de tendas. Era uma quantidade razoável de camelos e somente guardados por quatro homens vestidos com umas djellabas escuras e a cabeça protegida por kefyehs.

Brites não se diferenciava destes árabes. Eles cumprimentaram-na com um baixar da cabeça e um Inshallah a que Brites nem respondeu, talvez por não saber o seu significado.




5 - A Fuga de Brites de África

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A situação de Brites não era muito confortável. Vivendo a tratar de camelos e como companheiros homens árabes que a tratavam como uma sua igual, não suspeitando que ela fosse mulher.
Os tempos eram difíceis, o sol era impiedoso, os animais cheiravam mal e havia pouca água para os lavar, somente um charco que servia de lavadouro. Pediu a um dos árabes que a ensinasse a montar a camelo. O árabe achou graça e deu-lhe umas lições de “Bem cavalgar a toda a sela...num camelo”.
Este interesse repentino foi porque na mente de Brites se passava alguma ideia. Entretanto apercebeu-se que daqueles quatro homens dois não tinham aspecto árabe, a fisionomia era de ocidental.
Certo dia, aproximou-se de um e disse-lhe:
- Pela minhas mãos de seis dedos que aposto que és castelhano?
- Castelhano? Português de Torres Vedras, homem do diabo.
- Eu sou de Faro. E aquele que está ali, também é nosso conterrâneo?
- É o Fernando também é de Torres Vedras.
- Estamos a légua e meia da costa, se vocês colaborarem, uma noite destas roubamos três camelos e fugimos.
A ideia foi bem aceite pelos três. E certa noite de lua cheia, Brites e os dois portugueses pela calada da noite, roubaram os camelos, saíram em desfilada das tendas do senhor árabe e rapidamente chegaram à costa.
A sorte foi tanta que avistaram um navio pirata que só tinha a guardá-lo dois piratas que Brites tratou de lhes cortar a garganta antes que eles avisassem os companheiros. O vento estava de feição, os companheiros sabiam da arte e desfraldaram as velas, Brites e os companheiros chegaram ao alto mar sem serem perseguidos.

Atravessaram o estreito de Gibraltar e quando dobravam o cabo de Sagres uma violenta tempestade atirou-os para mar alto. Andaram perdidos uns dias, sem água e comida e sem virem embarcação alguma.

Mas Deus protege os audazes e o navio apanhou uma corrente que os levou em direcção a terra para os lados da Ericeira. Quando se estavam a aproximar-se da terra, baixaram as velas, deitaram um pequeno bote a remos ao mar e assim sem grande alarido, desembarcaram na Ericeira.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

6 - Brites de Almocreve a Padeira


Disfarçada de homem seguiu para Torres Vedras, onde comprou dois machos e se transformou num almocreve, andou de terra em terra e foi parar a Lisboa. E naquela terra estranha continuou a fazer das suas. Sempre que havia um reboliço, lá estava metida a Brites à paulada a rachar cabeças de preferência se fossem castelhanas. Brites de Almeida já manifestado fervor patriótico e um ódio aos castelhanos. Dizia-se em que apedrejou, junta com a multidão que desordenada entrou no Paço de S. Martinho, em Lisboa, quando do ilícito casamento de D. Fernando.
Vibrou de indignação contra Leonor Teles ao ter conhecimento do seu adultério e que aplaudiu o Mestre de Avis quando este matou o Conde de Andeiro.
Depois de se envolver em várias contendas em várias feiras, abrindo cabeças e provocando algumas mortes, Brites abandonou Lisboa, apanhou um barco para Valada, de onde já vestida de mulher, acabou por ir parar a Aljubarrota.
Para sobreviver, cansada e sem recursos, começou a pedir esmola à porta de um forno, despertando a atenção da padeira, que já ia avançada na idade e viu nela uns bons braços para o manejo da pá, não tivesse ela seis dedos em cada mão e uns ombros tão largos como de um homem.
Não se enganava a velha, e ofereceu a Brites o lugar de ajudante de padeira, que aceitou, não que gostasse da vida conflituosa que levava, gostava de assapar com o pau nos costados e cabeças dos homens que a afrontavam e dizia a velha padeira “ Que chegaria a hora de Brites fazer grandes coisas pelo o nosso país”.A padeira, dona do forno, não se enganou, mas infelizmente morreria antes do episódio que colocaria o nome de Brites de Almeida na História de Portugal.