sexta-feira, 28 de maio de 2010

3 - Fuga para Castela

...
Desatinada Brites com o seu ar desajeitado, com os haveres a fugir-lhe das mãos, tendo que parar para os apanhar, dirigia-se, sem olhar para trás, com receio que a sua fuga precipitada levantasse suspeitas nas pessoas que sentadas às portas das suas habitações conversavam, naquelas ruas estreitas da cidade de Faro, que desembocavam junto ao cais.
O batel do Peixoto um ladrão mais que marinheiro, seu conhecido, preparava-se para zarpar com destino ao reino de Castela, quando lhe apareceu pela frente a abantesma de Brites, que lhe disse:
- Ó compadre Peixoto só vossemecê é que me pode valer.
- E o que foi que fizeste desta vez, ó Brites – disse o marinheiro
- Matei um soldado do rei e se me apanham vou para o xelindró - respondeu
- Ó mulher, eu vou para Castela, com um carregamento especial e não regresso tão cedo – disse o marinheiro.
- Eu também quero ir para não mais voltar – respondeu a Brites
- Então sobe que eu vou aproveitar a maré e antes que venha alguém com quem eu não me quero encontrar. E o batel partiu, aproveitando a maré e o vento que soprava de feição.
Estava o sol quase no ocaso e o batel já navegava frente a Sanlucar de Barrameda, quando um navio pirata, vindo do norte de África, mais propriamente da Argélia, encostou ao batel do marinheiro, já conhecido por aquelas paragens. - Entonces amigo que carga tiendes com vosotros en tu batel
– disse o pirata que falava um castelhano meio arrevesado.
- Pescado, só pescado que vou levar a Cadiz, señor – disse o marinheiro num castelhano do mesmo calibre.
- Te conecemos de outras viajes. Y esta chica que se parece a um hombre? És tu mujer?
- No, Dios me dé outro destino!
- Tenemos um buen trabajo para ela. En el hárem de mi amigo Moulaye Abdel en mi terra, ou escravita. - disse o pirata.
E dito isto, dois piratas içaram Brites, prenderam-na a um poste do navio e ataram o batel do marinheiro à popa do navio.


O marinheiro-ladrão prevendo que o seu negócio ia parar às profundezas do oceano, tentou habilmente negociar com o pirata.
- Señor doy la mitad de mi mercancia y que me dejes ir, vale?
- Te vas, pero sin nada. E tu mercancia não é pescado, qui és?
- São …pescado
- Usted es um ladrón qui solo robas cosas buenas...unas pratitas de las iglesias...ou ourito de damas portuguesas, não és cierto?
- Poca cosa...uns regalos para unas mujeres de Cádiz.
- No importa. Temos tiempo de saber qui és la mercancia.
E ordenando a dois seus capangas, pegaram no marinheiro e içaram-no também para o
navio e ataram-no a um outro poste.
E o navio pirata tomou o rumo das costas de África.

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